Tratamento Artroscópico das Fraturas do Planalto Tibial
Caetano Scalizi Junior1, Frederico Araújo Leite2, Mauro Caravaggi1, Rogério Teixeira de Carvalho1, Wolf Akl Filho3, Francisco Mendes Ferreira Neto4, Pedro Gouveia Bastos4, Rodrigo Pires de Araujo2
1- Médico – Assistente do Grupo de Joelho do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do HSPE – IAMSPE – SP
2- Médico – Residente do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do HSPE – IAMSPE – SP
3- Médico – Chefe do Grupo de Joelho do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do HSPE – SP
4- Médico – Estagiário do Grupo de Joelho do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do HSPE – SP
RESUMO
As fraturas do planalto tibial apresentam uma ampla variedade de opções terapêuticas.
Os autores descrevem a técnica cirúrgica de tratamento artroscópico das fraturas
do planalto tibial. Apresentam suas principais indicações e contra-indicações, descrição
da técnica, assim como os cuidados pós-operatórios e complicações relacionadas
ao procedimento. Palavras-chave: Fraturas do planalto tibial / cirurgia. Tratamento artroscópico de fraturas.
SUMMARY
The tibial plateau fractures present a wide variety of therapeutic options. The
authors describe the surgical technique of arthroscopic treatment of fractures of the
tibial plateau. In this article, they present its main indications and contra indications,
technique’s description, post-operative care and complications related to the procedure.
Keywords: Fractures of the tibial plateau/ surgery. Arthroscopic treatment of fractures.
INTRODUÇÃO
As fraturas do planalto tibial representam um complexo espectro de lesões envolvendo
a superfície de suporte de peso da tíbia. Segundo Hohl, as fraturas do planalto
tibial totalizam 1% de todas as fraturas e 8% das fraturas sofridas por pessoas idosas.
Lesões isoladas do planalto lateral correspondem a 55-70% das fraturas do planalto
tibial, comparadas com 10-25% das fraturas isoladas do planalto medial e 10-30% das
fraturas bicondilares(4).
As fraturas do planalto tibial são decorrentes de consideráveis forças em valgo ou
varo, combinadas com solicitação axial(1). Schatzker classificou as fraturas do planalto
tibial em seis tipos, sendo que os tipos I, II e III envolvem apenas o planalto lateral e são
consideradas lesões de baixa energia, enquanto os tipos IV, V e VI, que correspondem
respectivamente às fraturas que envolvem o planalto medial, bicondilares e com separação
da metáfise e da diáfise, são consideradas lesões de alta energia.
A variedade das lesões do planalto tibial é tão grande que nenhum método de
tratamento isolado se revelou invariavelmente bem-sucedido. O tratamento conservador
é indicado para as fraturas sem desvio ou com desvio mínimo e pacientes com osteoporose
avançada. O tratamento cirúrgico se impõe nos casos de fraturas com desvio maior
que 2 mm a 1 cm (dependendo da localização da fratura), instabilidade do joelho maior
do que 10° comparado com o lado contralateral, fraturas expostas, síndrome compartimental
e lesão vascular associada.
Técnicas de redução e fixação artroscopicamente assistidas estão sendo empregadas
com freqüência no tratamento das fraturas do planalto tibial dos tipos I, II e III de
Schatzker. As técnicas artroscópicas exigem dissecção mínima de partes moles, possibilitam
excelente visualização da superfície articular sem a abertura da articulação e
podem ser utilizadas para diagnóstico e tratamento de lesão meniscal concomitante(2).
INDICAÇÕES
As possíveis indicações para tratamento artroscópico das fraturas do planalto
tibial são:
• Fraturas em separação lateral ( schatzker I)
• Fraturas laterais com separação e depressão ( schatzker II)
• Fraturas com depressão lateral ( schatzker III)
CONTRA-INDICAÇÕES
As contra-indicações para o procedimento são:
• Inexperiência do cirurgião
• Fraturas com grande separação e depressão dos fragmentos (maior risco de infiltração
e síndrome compartimental)
• Fraturas com grande lesão de partes moles
TÉCNICA CIRÚRGICA
O artroscópio é introduzido através do portal anterolateral padrão com o influxo
através de um portal súperomedial. O “probe” é inserido através do portal anteromedial
e um exame de rotina da articulação do joelho é realizado. O desbridamento é realizado
conforme o necessário, limpando o ligamento mucoso e qualquer coxim adiposo que
iniba a completa visibilidade do compartimento lateral e da fratura. Uma vez que tenha
sido determinado que a fratura pode ser elevada de forma satisfatória, um guia tibial é
utilizado para encontrar o centro da área deprimida do planalto. Uma vez posicionado,
o fio-guia é inserido por via percutânea através da cortical tibial anterolateral e introduzido
pela articulação do joelho sob observação direta. Idealmente, o pino penetra na
articulação em uma posição levemente posterior na fratura e a meio caminho entre as
extensões medial e lateral do fragmento deprimido. Uma pequena incisão na pele é feita
ao redor do pino percutâneo, para permitir que uma broca canulada de 9 mm seja inserida
através da pele. A cortical tibial é cuidadosamente perfurada, dando atenção especial
para não penetrar a broca além da cortical. Um tamponador canulado e angulado é
introduzido através do orifício tibial e é utilizado para golpear suavemente o fragmento
deprimido em uma situação proximal, enquanto se observa através do visor.
A superfície inferior do menisco lateral serve como um excelente ponto de referência
para determinar se a elevação ficou completa. Quando o planalto estiver efetivamente reduzido,
o mesmo se posicionará diretamente contra a superfície inferior do menisco lateral,
obliterando completamente o espaço que é facilmente visto antes do início da elevação.
Quando a fratura tiver sido reduzida anatomicamente, a fluoroscopia é utilizada
para demonstrar o alinhamento do planalto, para confirmação da redução anatômica.
Quando a redução for considerada adequada, avalia-se a necessidade de enxertia óssea,
que pode ser colocada através do orifício feito na tíbia anterolateral, preenchendo com-
pletamente a lacuna criada pela elevação do fragmento e pelo tamponador propriamente
dito. Utilizando fluoroscopia, fios-guia são passados da face lateral para a medial a aproximadamente
1 cm abaixo da superfície articular, saindo pela metáfise medial. Parafusos
canulados de 7,3 mm são utilizados para fixar a fratura. Um mínimo de dois parafusos
é empregado para as fraturas com separação simples ou com separação e depressão.
Nas fraturas com separação um parafuso antideslizamento pode ser inserido no ápice da
fratura, reduzindo a probabilidade de cizalhamento da fratura. A avaliação radiográfica
final confirma a redução da fratura, posição dos parafusos, comprimento dos parafusos
e o posicionamento adequado do enxerto ósseo(3).
CUIDADOS PÓS- OPERATÓRIOS
Após a cirurgia, o joelho é colocado em uma órtese articulada, permitindo uma
total variação de movimentos, conforme a dor e o edema permitirem. Emprega-se uma
estratégia de restrição de carga durante as primeiras 8 semanas. Após 8 semanas, uma
carga parcial é permitida durante as próximas 4 semanas, com a carga total sendo iniciada
em aproximadamente 12 semanas após a cirurgia, com base na análise radiológica da
consolidação da fratura.
COMPLICAÇÕES
Foram relatadas na literatura complicações como infecção, trombose venosa profunda,
embolia pulmonar, paralisia do nervo fibular e extravasamento de fluido para os
tecidos moles, ocasionando síndrome compartimental.
RECOMENDAÇÕES
• Deve ser evitada a irrigação sob pressão, para reduzir o risco de síndrome compartimental.
• Instrumental adequado
• Não insistir no procedimento por mais do que uma hora devido ao aumento do
risco de síndrome compartimental e dificuldades técnicas, se necessário converter
para técnica aberta.
• Utilizar enxerto de apoio, se necessário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Green, D.P., Heckman, J.D. et al: Fractures, 5th ed., Philadelphia, J.B. Lippincott, 2001.
2. Canale, S.T., colaboradores. Campbell’s Operative Orthopaedics Vol. III. New York, 2003
3. Jackson, D. W., editores. Cirurgia do Joelho, Segunda Edição, 2005.
4. Hohl M. Part I: fractures of the proximal tíbia and fíbula. In: Rockwood C, Green D, Bucholz R, eds. Fractures in adults,
5rd ed. Philadelphia: J.B. Lippincott, 1991.