Tratamento das Fraturas do Fêmur Proximal com Placa de Apoio Trocantérica associada ao DHS
Lauro C. Magalhães Filho2, Daniel Arruda Mello2, Mauricio Sugiyama Morita2, Richard Armelin Borger3, Marcelo Itiro Takano3, Rubens Salem Franco3, Rodrigo Morette Arantes3, Roberto Dantas Queiroz1
RESUMO
Os autores descrevem a técnica cirúrgica de osteossíntese com placa de apoio
trocantérica associada ao DHS para tratamento de fraturas transtrocantéricas. Apresentam
suas principais indicações e contra-indicações, descrição da técnica, assim como os
cuidados pós-operatórios e complicações relacionadas ao procedimento.
Descritores: Fratura Transtrocantérica / Cirurgia. Fixação Interna de Fraturas.
SUMMARY
The authors describe the surgical technique of trochanteric fractures with DHS
plus trochanteric stabilization plate. In this article, they present its main indications and
contra indications, technique’s description, post-operative care and complications related
to the procedure. Keywords: Trochanteric Fractures / Surgery. Fracture Fixation, Internal.
INTRODUÇÃO
As fraturas transtrocanterianas são responsáveis por aproximadamente 50% de
todas as fraturas do fêmur proximal, sendo mais comum nas mulheres devido às alterações
metabólicas no osso pós-menopausa. A idade média de incidência é de 66-76
anos(1), elevando o risco com o aumento da idade(2). Além disso, as fraturas no quadril
são causas comuns de morbidade e mortalidade na população idosa e são associadas
com consideráveis gastos em saúde na maioria dos países industrializados.(3) O principal
mecanismo de trauma nos pacientes idosos é a queda ao solo com impacto direto na
região lateral do quadril.(1)
As classificações mais utilizadas são: a de Evans (fig. 1) e a de Tronzo (fig. 2) que
baseiam-se na estabilidade pré e pós-redução, nas incidências anteroposterior e perfil;
sendo os critérios de instabilidade: traço subtrocanctérico, cominuição póstero-medial
e traço reverso.
A fratura transtrocanteriana deslocada é de tratamento iminentemente cirúrgico,
exceto nos pacientes sem condições clínicas adequadas, para promover uma saída precoce
do leito, diminuindo riscos de complicações pulmonares e circulatórias. Ao longo
do tempo, materiais de osteossíntese foram desenvolvidos, como placa de ângulo fixo,
parafuso dinâmico de quadril (DHS), hastes intramedulares(4) e a placa de apoio trocantérica
associada ao DHS (figura 3 e 4). O DHS tem sido usado como tipo de fixação
convencional para fraturas transtrocantéricas(5,6), constituindo o método de escolha para
o tratamento dessas fraturas, exceto nas com traço reverso(7,8,9). Porém, o sucesso do
tratamento depende de cinco fatores: qualidade do osso, tipo da fratura, obtenção da
redução e posicionamento do implante.(10)
INDICAÇÕES
A indicação para osteossíntese de fraturas transtrocantéricas com placa de apoio
trocantérica associada ao DHS é:
• Fratura com destacamento do trocânter maior
CONTRA-INDICAÇÕES
As contra-indicações para o procedimento são:
• Infecção ativa
• Falta de condições clínicas do paciente
• Inexperiência do cirurgião
TÉCNICA CIRÚRGICA
O paciente é colocado na mesa de tração sob raquianestesia. Inicialmente é imprescindível
a redução da fratura, por meio indireto com auxílio da radioscopia. Caso
não se consiga uma redução incruenta desejável, deve-se realizá-la de modo direto com
manipulação do foco de fratura após feita a via de acesso. Faz-se assepsia de todo membro
e colocam-se campos cirúrgicos estéreis. Realiza-se uma via lateral no quadril acometido,
com incisão na pele e subcutâneo, abertura da fáscia lata e acesso retrovasto lateral.
longo do colo do fêmur, utilizando o guia adequado do ângulo do DHS (figura 5). Com
cuidado, introduz-se o fio na cabeça femoral. Isto ajudará, posteriormente, na colocação
correta do fio guia no centro da cabeça femoral. Alinha-se o guia angular com o eixo
da diáfise femoral, colocando-o na lateral do fêmur. Insere-se um fio guia de 2.5 mm
através do guia angular, paralelo ao fio de anteversão e em direção ao centro da cabeça
femoral. O fio guia deve passar no eixo do colo do fêmur na visão em AP e em perfil,
devendo ser introduzido até o osso subcondral (figura 6). Mensura-se a profundidade
que foi inserido o fio guia com o dispositivo adequado e desconta 10 mm para fazer
a perfuração com o perfurador triplo (três diferentes calibres simultâneos – parafuso,
tambor e escareador para junção placa/tambor) (figuras 7 e 8). Utiliza-se o macho e insere
o parafuso adequado com movimentos de giro no sentido horário (figuras 9 e 10).
Antes de remover a montagem, alinha-se o cabo no mesmo plano da diáfise femoral.
Desliza-se a placa DHS para dentro do orifício, encaixando-a no parafuso deslizante e
assente a placa com o impactador (figuras 11 e 12).
Prenda a placa DHS na diáfise femoral com apenas um parafuso, através do segundo
furo DCP mais proximal (figura 13). Se necessário, modele a porção final da placa
de apoio trocantérica, em “forma de colher”, para ajustar no trocânter maior (figura 14).
Posiciona-se a placa acima do DHS, assegurando-se que esteja bem assentada e que o
orifício oval permita a colocação do parafuso de compressão final do DHS (figura 15).
Prenda o conjunto placa de apoio-DHS através dos orifícios remanescentes (figura 16).
Perfure com broca 3.2 mm com auxílio do protetor de partes moles. Mensure o tamanho
dos orifícios e coloque os parafusos equivalentes. Se desejar, coloque o parafuso
de compressão do DHS conforme a técnica padrão (figura 17). Fixação adicional deve
ser usada através dos orificios da porção em “forma de colher” da placa de apoio, com
parafusos esponjosos de 4.0 mm, fios de cerclagem ou cabos de cerclagem (figuras 18,
19, 20, 21 e 22) e a reinserção do glúteo médio com suturas.
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
O paciente é autorizado a mobilizar o quadril precocemente e permanecer com
carga parcial no membro operado durante seis semanas. Após, um programa de treino de
marcha com carga total e força muscular progressiva é instituído.
COMPLICAÇÕES
As complicações possíveis são: infecção aguda (superficial ou profunda), pseudartrose,
trombose venosa profunda.
RECOMENDAÇÕES
• Usar mesa de tração.
• Obter uma redução adequada
• Durante a dissecção, deve-se tomar cuidado para evitar danos à vascularização
dos fragmentos ósseos.
• Posicionar o fio guia no centro da cabeça e no eixo do colo femoral.
• Respeitar o Índice de Baumgaertner.
• Fazer a fixação adicional com parafusos esponjosos de 4.0 mm, fios de cerclagem
ou cabos de cerclagem e reinserir o glúteo médio com suturas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Koval KJ, Zuckerman JD. Handbook of fractures. 3th ed. Philadelphia: J.B.Lippincott; 2006.
2. Alarcon T, Gonzalez-Montalvo JI, Barcena A, Saez P. Further experience of nonagenarians with hip fractures. Injury 32:555-558, 2001.
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5. Bolhofner BR, Russo PR, Carmen B. Results of intertrochanteric femur fractures treated with a 135-degree sliding screw with a two-hole side plate. J Orthop Trauma 1999; 13:5–8.
6. Shah MR, Aharonoff GB, Wolinsky P, Zuckerman JD, Koval KJ. Outcome after hip fracture in individuals ninety years of age and older. J Orthop Trauma 2003; S6–11.
7. Kyle RF, Cabanela ME, Russell TA, Swiontkowski MF, Winquist RA, Zuckerman JD et al. Fractures of the proximal part of the femur. Instr Course Lect. 1995;44:227-53.
8. Koval KJ, Zuckerman JD. Hip fractures. II. Evaluation and treatment of intertrochanteric fractures. J Am Acad Orthop Surg. 1994; 2(3):150-6.
9. O’Brien PJ, Meek RN, Blachut PA, Broekhuse HM, Sabharwal S. Fixation of intertrocantheric hip fractures: Gammanail versus dynamic hip screw. A randomized prospective study. Can J Surg. 1995; 38(6):516-20.
10. Schwartsmann CR, Boschin LC. Quadril do adulto. In: Pardini Junior AG; Barros Filho T0E P,organizadores. Ortopedia e traumatologia – princípios e prática. 3a. ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2003. p 990.