Fraturas do Tálus: Acesso com Osteotomia do Maléolo Medial
Wellington F. Molina1, Kelly C. Stefani2.
1. Médico chefe do grupo de pé e tornozelo do Hospital do Servidor Público Estadual – IAMSPE – São Paulo – SP.
2. Médico assistente do grupo de pé e tornozelo do Hospital do Servidor Público Estadual – IAMSPE – São Paulo – SP.
RESUMO
Os autores descrevem a técnica de abordagem das fraturas do corpo do tálus através
de uma osteotomia em “V” do maléolo medial, discutindo suas indicações e contraindicações.
Descritores: Fraturas; T.lus; Osteotomia; Cirurgia.
SUMMARY
The authors describe a technique of approach the fractures of talar body by a “V”
osteotomy of medial malleolus discussing its indications.
Keywords: Fractures ; Talus ; Osteotomy ; Surgery.
INTRODUÇÃO
O tálus sustenta e distribui as forças mecânicas do corpo acima dele.
As fraturas do tálus ocupam o segundo lugar nas fraturas do tarso. Ocorrem em
traumas de alta energia , como em acidentes aéreos, conforme relatado por Anderson em
1919, daí o nome “fratura do aviador”.
A irrigação do tálus é feita principalmente pela artéria do seio do tarso (alça anastomótica,
entre o ramo perfurante da artéria fibular e um ramo da artéria dorsal do pé) e
artéria do canal do tarso que origina o ramo deltóide que irriga o terço medial do corpo
do tálus, de tal forma que a via de acesso medial deve preservar tal irrigação.
As fraturas do colo atingem 50% das fraturas do tálus, tendo sido classificadas por
Hawkins em 1970:
tipo I – Fratura vertical do colo sem desvio;
tipo II – Fratura do colo com desvio e luxação ou subluxação subtalar;
tipo III – Fratura do colo com desvio, com luxação do corpo do tálus,
da subtalar e tíbio-társica;
tipo IV – Tipo III mais luxação talo-navicular (Canale e Kelly).
As fraturas do corpo do tálus podem ser : fraturas osteocondrais da cúpula talar;
fraturas por cizalhamento que atingem tanto a tíbio-társica quanto a subtalar (13 a 20%
das lesões talares); fraturas do processo posterior; fraturas do processo lateral ou fraturas
cominutivas.
INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES
O acesso medial com osteotomia do maléolo medial está indicado nas fraturas do
colo do tálus tipo III de Hawkins e nas fraturas do corpo do tálus por cizalhamento com
desvio (acima de 2 mm) póstero-medial do corpo do tálus, sendo a redução extremamente
difícil nos casos sem fraturas associadas do maléolo medial.
PLANEJAMENTO PRÉ-OPERATÓRIO
O paciente deverá ser submetido a radiografias do tornozelo frente e perfil, além da
incidência de Canale e Kelly (realizada com o pé em equino máximo e em 15° de valgo
e com o tubo de Rx posicionado a 75° sentido cefálico do plano da mesa).
A tomografia computadorizada nos planos coronal e axial é fundamental no estudo
da fratura em si, e das lesões associadas.
TÉCNICA CIRÚRGICA
O paciente é posicionado em decúbito dorsal, sob raque, com garroteamento do
membro inferior acometido.
Faz-se uma incisão medial do tubérculo do navicular até acima do maléolo medial;
identifica-se a veia safena longa, que deve ser afastada medialmente ou ligada.
O maléolo medial é pré – broqueado e pré – macheado para facilitar sua síntese
posterior; realiza-se osteotomia em “V” invertido do maléolo medial, com uma serra de
baixa oscilação.
Afasta-se o maléolo medial osteotomizado para visualização, redução e síntese da
fratura do tálus sob controle radioscópico de preferência.
Efetua-se a síntese do maléolo medial a partir dos orifícios pré – estabelecidos com
01 ou 02 parafusos para osso esponjoso de 4,0 mm. Figura 1 e 2
Retirada do garrote para revisão hemostática. Realizado controle radioscópico e fechamento por planos.
Aplicado aparelho gessado suro-podálico.
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
Deve-se manter o aparelho gessado por 6 a 8 semanas permitindo-se, então, mobilização
subtalar e tíbio-társica; entretanto o paciente é mantido sem carga por 10 a 12
semanas. A carga só deve ser iniciada após visualização radiográfica de consolidação óssea.
COMPLICAÇÕES
1- Pseudoartrose do maléolo medial (rara);
2- Consolidação viciosa do maléolo medial .
RECOMENDAÇÕES
O corte em “V” invertido tipo “Chevron “, bem como a pré perfuração do
maléolo medial, permitem uma perfeita redução dos fragmentos facilitando sua
posterior fixação , além de permitir uma adequada visualização da fratura do tálus possibilitando
sua adequda redução e fixação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Andersen H G. The medical and surgical aspects of aviation. London, 1919, Hodder.
2. Canale S T, Kelly F B Jr. Fractures of the neck of the talus. J Bone Joint Surg (A) 1978; 60: 143-156.
3. Comfort T H, Behrens F, Gaither D W. Long-term results of displaced talar neck fractures. Clin Orthop 1985; 199: 81-87.
4. Hawkins L G. Fractures of the neck of the talus. J Bone Joint Surg (A) 1970; 52: 991-1002.
5. Sanders R. Fractures and fracture – dislocations of the talus. In: Mann R A, Coughlin M J. Surgery of the foot and ankle. Mosby, 2007. 2075-2136.