O Grupo de Coluna Vertebral do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do HSPE alerta a população sobre o mês de consciência para a Escoliose

Junho é o mês da consciência para Escoliose!

O termo “ESCOLIOSE” muitas vezes é utilizado indiscriminadamente para descrever qualquer curvatura notada na coluna vertebral, seja em avaliação clínica ou em exame de radiografia, muitas vezes realizado por outra razão, como um Raio-X do pulmão em uma gripe. Entretanto, existem critérios bem definidos para o diagnóstico preciso dessa deformidade na coluna vertebral.

Embora a escoliose seja uma deformidade rotacional, seu reconhecimento se faz pela identificação de uma curvatura lateral visível no Raio-X frontal da coluna vertebral, reconhecidamente com uma angulação superior a 10°. Existem diversas causas para a escoliose, como malformações congênitas (presentes ao nascimento), doenças neuromusculares e síndromes genéticas, mas na maioria absoluta (em torno de 80%) dos casos não se consegue identificar a causa exata da deformidade, sendo então denominada “IDIOPÁTICA”. Na grande maioria dos casos, a deformidade torna-se aparente entre os 10 anos de idade e a idade adulta, sendo classificada como Escoliose Idiopática do Adolescente.

Estima-se que cerca de 2% a 3% dos adolescentes apresentem curvatura acima de 10° na coluna vertebral, ocorrência que reduz conforme piora o grau da deformidade. Existe nítido predomínio no sexo feminino, descrita como ocorrência de até 9 meninas para um menino, considerando curvas mais graves acima de 40°.

Além da deformidade radiográfica, a escoliose pode levar à deformidade clínica, de acordo com magnitude da angulação, envolvendo os ombros, tórax, escápulas e cintura. Muitas vezes o diagnóstico, ou a suspeita, é feito na escola, pelo professor de educação física. Em casos suspeitos, é muito importante que a criança ou o adolescente seja encaminhado para uma avaliação especializada o que permite o diagnóstico precoce.

Uma vez diagnosticado um caso de Escoliose Idiopática do Adolescente, é importante ter em mente que a maioria das curvas não tende a progredir. Estão em maior risco para progressão curvas com maior magnitude e em idade menor, pacientes ainda com elevado potencial de crescimento. Um outro ponto é que a principal implicação da escoliose consiste na deformidade em si, manifestada através de alterações no formato do tronco, porém representando nada mais que uma questão estética. Até o momento, não está estabelecida relação entre a ocorrência de dor nas costas com a escoliose, embora alguns pacientes se queixam de dor. Muitas vezes, acredita-se que a dor seja de origem muscular e não propriamente pela curvatura da coluna vertebral. Por outro lado, existe evidência que a ocorrência de problemas na coluna, na fase adulta, é significativamente maior nos indivíduos que tenham Escoliose Idiopática do Adolescente comparado com indivíduos sem escoliose.

Outra consequência muito temida associada à escoliose é o comprometimento da função respiratória/pulmonar. Entretanto, complicações respiratórias somente acontecem em casos com deformidades graves, com curvaturas acima de 90°, o que é extremamente incomum. Sendo assim, indivíduos com curvaturas de baixo grau, até 30°, o que representa a grande maioria dos casos, não apresentam limitação para nenhuma atividade profissional, recreacional ou esportiva.

A decisão quanto ao tratamento de escoliose idiopática do adolescente é um tanto complexa e deve levar em consideração inúmeros fatores. De uma maneira geral, podemos distinguir três grupos, de acordo com a gravidade da curva:

  • Curvas mais leves, entre 10° e 30°: Normalmente não tendem a progredir e representam mínimo impacto na vida dos pacientes, mesmo quanto à questão estética. Muitas vezes são descobertas ao acaso e o tratamento consiste apenas em um acompanhamento periódico (a frequência depende da idade e da maturidade do esqueleto) com avaliação clínica e radiológica.
  • Curvas mais graves, acima de 45-50°: Foi demonstrado que, independentemente da idade, apresentam progressão, em torno de 0.75° a 1° por ano. Quando diagnosticadas curvas com essa magnitude em esqueleto imaturo, está indicado o tratamento cirúrgico, assim como quando se documenta a progressão com o esqueleto maduro.
  • Curvas intermediárias, entre 30° e 45°: Corresponde às curvas indefinidas se vão ou não apresentar progressão. Necessitam um acompanhamento mais frequente e outros fatores precisam ser considerados, como a idade e a maturidade do esqueleto, sendo que quando se atinge a maturidade do esqueleto, a tendência à progressão reduz consideravelmente. Essas curvas quando detectadas em esqueleto imaturo são beneficiadas do uso de coletes, cuja eficácia está confirmada no intuito de prevenir a progressão da deformidade, evitando-se a necessidade de cirurgia. Por isso a importância na suspeita e reconhecimento precoce do problema.

A cirurgia para tratamento da Escoliose Idiopática do Adolescente representa um grande tabu, envolvendo muitos mitos. Entretanto, com todo avanço que ocorreu, principalmente nas duas últimas décadas, e o emprego de técnicas modernas, corresponde a um procedimento muito bem sucedido, com mínima ocorrência de complicações, embora haja alguns riscos. Os sistemas mais avançados de fixação oferecem uma estabilização rígida da coluna vertebral, permitindo uma reabilitação mais rápida, além de elevado poder de correção da deformidade.

Para maiores esclarecimentos, recomendamos que vocês não hesitem em procurar um especialista em cirurgia de coluna para discutir qualquer eventual dúvida sobre o diagnóstico, implicações ou tratamentos.

 

Raphael de Rezende Pratali

Carlos Eduardo Algaves Soares de Oliveira

Carlos Eduardo Gonçales Barsotti

Francisco Prado Eugênio dos Santos

Grupo de Coluna Vertebral do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do HSPE.