Tratamento Cirúrgico de Fratura Patológica de Tíbia
Marcos Hajime Tanaka1, Marcello Martins de Souza1, Rafael Mota Marins dos Santos2, David Marcelo Duarte2, Marcus Vinicius Amaral Barreto2
1. Médico do Grupo de Oncologia Ortopédica do Servi.o de Ortopedia e Traumatologia do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo – IAMSPE
2. Médico residente do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo – IAMSPE
RESUMO
Os autores apresentam uma técnica alternativa para o tratamento da fratura patológica
metastática da tíbia. Demonstram a técnica cirúrgica, indicações, contra-indicações,
complicações e os principais cuidados.
Descritores: Fraturas da t.bia/ cirurgia/radioterapia
SUMMARY
The authors report an alternative technique for treatment of pathological metastatic
fractures of the tibia . It describes the surgery technique, indications, contraindications,
complications and post-operative care.
Keywords: Tibial fractures / surgery/ radiotherapy
INTRODUÇÃO
As lesões metastáticas são a forma mais freqüente de acometimento tumoral maligno
do osso na raça humana. O esqueleto é o terceiro sítio mais comum dessas lesões, estando
atrás somente do pulmão e fígado.(1,4)
Tumores de mama, próstata e pulmão são os principais sítios primários das metástases
ósseas. Embora possam acometer qualquer osso, se apresentam principalmente na coluna
vertebral, seguida por costelas, ossos da pelve e fêmur proximal. As metástases ósseas distais
ao cotovelo e joelho são incomuns, porém quando ocorrem, o sitio primário mais comum é
o pulmão.(1,3)
Na suspeita de metástase óssea, é fundamental a definição do sítio primário, para que
se possa tratar do paciente de forma mais eficiente e multidisciplinar. Isso torna a biópsia um
procedimento quase sempre obrigatório.(4)
O objetivo do tratamento deve sempre ser a manutenção ou melhora da qualidade de
vida do paciente. Para o cirurgião oncológico ortopédico o tratamento deve visar a profilaxia
das fraturas patológicas sempre que possível e para isso, podemos lançar mão do índice de
Mirels, além do conhecimento do tipo histológico da lesão e sua resposta a tratamentos adjuvantes
e neoadjuvantes.
Há vários métodos de tratamento cirúrgico descritos na literatura para as fraturas patológicas.
O tratamento pode variar dependendo da localização, do tipo, da extensão do tumor
e das condições clinicas do paciente.(2,5,6)
A cirurgia possibilita a melhora da dor e da função, facilita os cuidados médicos e de
enfermagem, diminuindo o tempo de internação.(5,6)
Na vigência de lesão tumoral, quimioterapia ou radioterapia podem ser o único tratamento
necessário. Mas, nos casos em que o risco de fratura é alto ou na sua presença, o
tratamento cirúrgico se torna primordial.
Mirels (tabela 1) em 1989(2) propôs um escore para a indicação de fixação profilática
das lesões ósseas metastáticas baseado em quatro parâmetros: localização anatômica, dor,
padrão radiográfico e porcentagem de acometimento do diâmetro do osso na radiografia
simples (escore varia de 4 -12, estando indicada fixação profilática quando for acima de 8).
Os autores pretendem demonstrar uma técnica em que foi realizada a ressecção da lesão
tumoral e reconstrução do defeito ósseo utilizando uma placa com parafusos bloqueados
e preenchimento com cimento ósseo acrílico “armado” em um paciente com fratura patológica
metadiafisária de tíbia.
INDICAÇÕES
As placas bloqueadas permitem a combinação do uso de parafusos convencionais e
parafusos bloqueados na placa, o que possibilita a fixação da fratura em ossos de má qualidade,
ou seja, aqueles que apresentam lesões metastáticas. Na tíbia proximal está indicada em:
1) fraturas articulares,
2) fraturas de tíbia proximal ou diafisária proximal, não adequadas para encavilhamento
intramedular
3) fraturas de osso osteoporótico
4) fraturas patológicas matastáticas
5) fraturas periprotéticas.
PLANEJAMENTO PRÉ-OPERATÓRIO
Paciente com suspeita diagnóstica de lesão tumoral em tíbia devido imagem lítica
à radiografia diagnóstica (Figura 1), na ausência de antecedente patológico o paciente foi
submetido, então, a uma biópsia com agulha sob visualização radioscópica.
O Resultado do anatomopatológico sugeriu metástase de carcinoma pulmonar, foi realizado
estadiamento do paciente através de cintilografia óssea e tomografia de tórax e abdômen.
Através de acompanhamento multidisciplinar, e calculando-se o índice de Mirels(2),
11 pontos, foi optado por tratamento cirúrgico do paciente com fixação profilática com placa
e preenchimento do defeito ósseo com cimento mais fios de kirschner.
TÉCNICA CIRÚRGICA
Paciente em decúbito dorsal horizontal sob raquianestesia. Foi realizada incisão
anteromedial da perna direita extendendo-se da linha articular do joelho até a exposição
total da lesão distalmente.
Após dissecção do subcutâneo, abordou-se a face medial da tíbia e realizou-se
curetagem intralesional. O tumor foi ressecado até exposição do leito ósseo com margens,
macroscopicamente (fig 2 a), livres de tumor. Com técnica adequada, foi estabilizada
a fratura com uma placa bloqueada para tíbia proximal (fig 2 b). Para corrigir o
defeito ósseo criado pela lesão tumoral e aumentar a estabilidade do sistema utilizamos
o cimento ósseo armado com fios de Kirschner 2.0 ( fig 2 c e d). Após respeitar o tempo
de endurecimento do cimento, foi realizada a limpeza exaustiva do local com soro fisiológico
0,9% e fechamento por planos. Não utilizou-se dreno neste caso. Foi realizado
curativo com um enfaixamento compressivo no local. Realizamos ainda na mesa cirúrgica
a radiografia pós-operatória (Figura 3). No terceiro dia pós-operatório o paciente
recebeu alta hospitalar para acompanhamento ambulatorial.
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
No primeiro dia de pós operatório foi liberada a movimentação ativa da articulação
do joelho. A deambulação foi permitida após cicatrização de partes moles (21 dias).
Realizou-se curativos diários até a retirada dos pontos em 15 dias. (Figura 4).
COMPLICAÇÕES
Dentre as complicações mais freqüentes destacamos a infecção como a mais devastadora
para o paciente oncológico, mas podemos, ainda, de acordo com a literatura:
• Síndrome compartimental
• Necrose de pele
• Falha da síntese como fratura da placa, soltura ou migração dos parafusos (por isso, optamos pela placa com parafusos bloqueados)
O paciente permaneceu deambulando e sem queixa de dor na perna até seu falecimento, 8 meses após a cirurgia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRASIL. Instituto Nacional do Câncer. Situação do Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA;2006
2. MIRELS, H. Metastatic disease in long bones: a proposed scoring system. Clin. Orthop. Relat. Res.,Philadelphia, n.49, p.256-264, Dec.1989.
3. ROUGRAFF, B.T. Evaluation of the patient with carcinoma of unknown primary origin metastatic to bone. Clin. Orthop. Relat. Res.,2003; 415:S105-S109
4. MUNDY, G.R., Metastasis to bone: causes, consequences and therapeutic opportunities. Nat. Rev. Cancer 2002; 2: 584-593
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6. WARD, W.G., HOLSENBECK B.A., DOREY F.J., SPANG J., HOWE D., Metastatic disease of the femur: Surgical treatment. Clin. Orthop. Relat. Res., 2003;415:S230-S244.